Larvas que Transformam Resíduos da Azeitona em Alimento para o Solo  

17 de outubro de 2025
Larvas que Transformam Resíduos da Azeitona em Alimento para o Solo  

Introdução: O Problema do Lixo e a Ideia Brilhante dos Insetos 

O mundo precisa de cada vez mais comida, mas ao mesmo tempo produz montanhas de lixo. Segundo as Nações Unidas, mais de um quarto da comida produzida no mundo é desperdiçada todos os anos. Isso não só gasta recursos como também polui. 

Na região do Mediterrâneo, um dos grandes problemas é o chamado bagaço de azeitona, que sobra da  produção de azeite. Este bagaço de azeitona é um resíduo constituído pela casca, alguma polpa e caroços triturados das azeitonas, que é difícil de eliminar, cheira mal e pode estragar o solo e a água. 

E se houvesse uma maneira de transformar este lixo em algo útil? Foi isso que os cientistas pensaram  quando recorreram às larvas da mosca soldado negra. Estas larvas comem restos orgânicos de todos os  tipos e, depois da digestão, produzem um material rico em nutrientes como azoto, carbono e minerais. A ideia é simples e genial: transformar lixo agrícola (o tal bagaço de azeitona) num fertilizante natural para  enriquecer o solo. 

Mas esta ideia não é apenas uma curiosidade científica. Ela representa também uma alternativa prática e  sustentável para resolver dois problemas ao mesmo tempo: o excesso de resíduos que se acumulam nas 

fábricas de azeite e a falta de fertilidade em muitos solos agrícolas. Ao converter lixo em recurso, estas  pequenas larvas mostram que até os insetos podem ajudar a construir um futuro mais verde e equilibrado. 

Como o Frass Foi Produzido 

Para este estudo, uma empresa portuguesa chamada Ingredient Odyssey (Entogreen) criou o tal frass,  alimentando larvas com uma dieta cheia de bagaço de azeitona misturado com cereais. Durante dias,  milhares de larvas comeram e digeriram este material. No fim, separou-se este frass (uma mistura dos  excrementos das larvas com restos de comida não digerida e pedacinhos de pele das larvas) das larvas, e  este foi tratado para poder ser usado como fertilizante natural em experiências controladas. 

Figura 1 – O Ciclo do Frass

Quando comparado com o bagaço original, o frass mostrou-se muito mais equilibrado: tinha menos  compostos tóxicos, mais matéria orgânica e muito mais azoto, essencial para as plantas. Além disso, os  níveis de metais como cobre e zinco estavam dentro dos limites seguros definidos pela União Europeia. 

Testes com os Animais do Solo e Plantas 

O solo está cheio de vida invisível, com pequenos animais que mantêm tudo em equilíbrio. Para perceber  se o frass era seguro, os cientistas usaram uma minhoca transparente e minúscula chamada Enchytraeus  crypticus. Eles viveram em solos com diferentes quantidades de frass, durante várias semanas. 

O que aconteceu foi surpreendente: estas mini minhocas não só sobreviveram como até tiveram mais  crias em solos com frass. Isto mostra que este fertilizante natural não prejudica a vida subterrânea e até  pode dar mais energia para a reprodução destes pequenos habitantes do solo.

Figura 2 – A Vida no Solo com o Frass 

Os cientistas também quiseram saber se o frass ajudava as plantas a crescer. Para isso, escolheram o  azevém, uma erva usada para alimentar animais, e o brócolo, um alimento muito nutritivo. As sementes foram plantadas em solos misturados com diferentes doses de frass. Também se fizeram experiências com extratos líquidos do solo, para perceber melhor o efeito nos primeiros dias de germinação. 

Os resultados mostraram que, em pequenas quantidades, o frass ajudava as plantas a germinar e a  crescer, tornando as raízes mais compridas e as folhas mais fortes. Em doses muito altas, algumas  sementes tiveram mais dificuldade em germinar, mas estas doses eram tão elevadas que dificilmente  seriam usadas por agricultores. Assim, ficou claro que, em doses normais, o frass não é tóxico, não é  prejudicial, para as plantas e pode até ser benéfico. 

O que os Cientistas Descobriram 

No final de todas as experiências, os cientistas conseguiram chegar a conclusões muito importantes. Em  primeiro lugar, perceberam que o fertilizante, que chamaram de frass, produzido a partir do bagaço de  azeitona é muito mais seguro do que o próprio bagaço original. Enquanto o resíduo da azeitona pode ser ácido e conter substâncias que fazem mal às plantas e ao ambiente, o frass resultante da digestão das larvas tem muito menos compostos tóxicos e torna-se um material mais equilibrado. 

Além disso, o frass revelou-se rico em nutrientes essenciais para a vida do solo e das plantas, como o  azoto, o fósforo e o potássio. Estes elementos são fundamentais para o crescimento saudável e estavam  presentes em quantidades que cumprem as regras estabelecidas pela União Europeia para a utilização de fertilizantes orgânicos. Isto significa que o frass não só é útil, como também pode ser usado de forma  segura na agricultura.

Outra descoberta muito interessante foi a reação dos pequenos animais do solo. Os testes mostraram  que o frass não os prejudica de forma alguma. Pelo contrário, as mini minhocas usadas na experiência até aumentaram a sua reprodução quando viviam em solos enriquecidos com este material. Este resultado  mostra que o frass pode contribuir para a manutenção de um solo cheio de vida, reforçando o papel destes organismos que ajudam a manter o equilíbrio natural. 

Por fim, também ficou claro que o frass pode trazer benefícios visíveis para as plantas. Tanto o azevém  como o brócolo mostraram melhorias no crescimento quando o fertilizante natural foi usado em  quantidades adequadas. As sementes germinaram melhor, as raízes desenvolveram-se mais e as plantas  ficaram mais saudáveis. No entanto, quando usado em excesso, o frass podia dificultar a germinação de  algumas sementes, o que reforça a importância de encontrar sempre a dose certa. 

Figura 3 – O Crescimento das Plantas com Diferentes Doses de Frass 

A importância deste estudo 

Este estudo mostra de forma clara que é possível pegar num grande problema ambiental e transformá-lo  numa solução útil. Os resíduos da produção de azeite, que normalmente são difíceis de eliminar e podem  poluir o solo e a água, deixam de ser apenas lixo e passam a ser a matéria-prima para criar um fertilizante  natural através das larvas da mosca soldado negra. Desta forma, algo que antes era visto como nocivo e  sem valor pode ganhar uma nova vida. 

O frass tem a vantagem de poder substituir, pelo menos em parte, os fertilizantes químicos usados hoje  na agricultura. Estes fertilizantes sintéticos exigem muita energia para serem produzidos e, quando  usados em excesso, libertam substâncias que poluem rios, lagos e até o ar. Já o frass, que no fundo é uma mistura dos excrementos das larvas com restos de comida não digerida e pedacinhos de pele das larvas, é resultado de um processo natural de reciclagem: as larvas transformam restos orgânicos num material equilibrado e rico em nutrientes, que pode devolver a fertilidade ao solo de forma mais segura e  sustentável. 

Outra razão pela qual o frass é tão importante está ligada à ideia de economia circular. Nesta visão, nada  se perde: os resíduos de um processo tornam-se recursos para outro. O bagaço da azeitona, que era  considerado apenas um subproduto sem utilidade, transforma-se num recurso precioso para a  agricultura. Isto não só reduz o impacto ambiental como também cria novas oportunidades económicas,  já que agricultores e empresas podem beneficiar de um fertilizante local, natural e de baixo custo. 

No futuro, este tipo de fertilizante poderá ser uma ajuda valiosa para os agricultores, sobretudo em  regiões como o Mediterrâneo, onde a produção de azeite é intensa e os solos muitas vezes precisam de  nutrientes extra. Com o uso do frass, os agricultores podem reduzir os custos de produção, diminuir a  dependência de químicos poluentes e, ao mesmo tempo, proteger o ambiente. Além disso, ao melhorar  a qualidade dos solos e aumentar a sua fertilidade, o frass ajuda também a garantir uma produção agrícola  mais sustentável, capaz de alimentar populações em crescimento sem esgotar os recursos naturais do planeta. 

Conclusão: O Futuro da Agricultura Pode Estar nas Larvas 

As larvas da mosca soldado negra mostraram-se grandes aliadas na luta contra o desperdício. Ao  transformar restos de azeitona em frass, elas criam um fertilizante natural que respeita o ambiente, ajuda  os animais do solo e dá força às plantas. 

O segredo, como sempre, está na medida certa: não usar demasiado, mas sim a quantidade necessária  para enriquecer o solo e apoiar o crescimento saudável das culturas. 

Com este tipo de inovação, percebemos que a natureza tem ferramentas simples, mas poderosas para  resolver grandes desafios. Basta observarmos, aprendermos e aplicarmos estas soluções com  responsabilidade para construirmos um futuro mais equilibrado e sustentável. 

Artigo Original 

Mostafaie, A., Silva, A. R. R., Pinto, J. N., Prodana, M., Lopes, I. G., Murta, D., Brooks, B. W., Loureiro, S., &  Cardoso, D. N. (2025). Safety assessment of black soldier fly larvae frass derived from olive by-products  for soil invertebrates and terrestrial plants. Journal of Environmental Management, 381, 123658.  https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2025.124151 

Declaração sobre o Uso de Ferramentas de Inteligência Artificial 

Este trabalho utilizou ferramentas de inteligência artificial para apoiar a simplificação do texto e a criação  de materiais visuais, mas todo o conteúdo foi revisto e validado por especialistas humanos, garantindo a  correção científica e a adequação ao público jovem.

Revisão do Texto e Mentoria Científica 

Este artigo foi revisto inicialmente por Isabel Saúde, do Gabinete de Comunicação e de Gestão de Ciência  do CESAM, e por xxxxxx, aluno(a) da Escola xxxxxxxxxxxxxx 

A mentoria científica do texto foi feita por Susana Loureiro, do CESAM e Departamento de Biologia da  Universidade de Aveiro, uma das coautoras do artigo original. 

Editor Geral 

Amadeu Soares, Diretor do CESAM e professor catedrático do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro.