Construir Casas e Prédios Também Adoece o Planeta?

16 de outubro de 2025
Construir Casas e Prédios Também Adoece o Planeta?

Introdução: As Pegadas Invisíveis das Construções

Quando vais à praia e caminhas descalço, deixas pegadas na areia. Depois, vem uma onda e apaga essas marcas. Mas e se essas pegadas ficassem para sempre? Imagina como seria a praia depois de muitas pessoas lá passarem… seria impossível ver a areia limpa.

Algo parecido acontece com as casas e os prédios que construímos. Eles também deixam pegadas, mas não na areia: deixam pegadas de carbono. Estas pegadas são invisíveis, mas muito poderosas.
Representam os gases que aquecem o planeta e mudam o clima.

Muitos pensam logo que essas pegadas vêm da energia que usamos quando acendemos as luzes,
ligamos o aquecimento ou usamos os elevadores. Mas há uma parte escondida que quase ninguém vê:
os gases libertados antes mesmo de alguém viver num prédio, durante a construção. É isso que os
cientistas chamam de carbono incorporado. Ele vem da produção de materiais como o cimento, o aço
ou o vidro, que precisa de muita energia e liberta grandes quantidades de dióxido de carbono. Também
conta o transporte desses materiais e o uso de máquinas pesadas na obra de construção e, depois, na
demolição e tratamento dos resíduos da demolição. Assim, mesmo antes de abrirmos a porta de um
edifício novo, já existe uma grande pegada de carbono associada à sua construção.

O Problema: Construções que Ajudam a Aquecer o Mundo

Sabias que os edifícios são responsáveis por quase 40% da energia usada no planeta? E cerca de 30% das emissões de gases que aquecem a Terra vêm deles também. Isso significa que cada casa, cada escola e cada supermercado têm um papel no aquecimento global.

Durante muitos anos, quando se falava em tornar os prédios mais amigos do ambiente, a atenção estava apenas na energia que eles gastavam depois de estarem prontos. Por exemplo: colocar painéis solares, trocar janelas para manter melhor o calor ou usar lâmpadas LED.

Tudo isso é importante, claro. Mas os cientistas começaram a perceber que havia um pedaço enorme da história em falta: o impacto da construção em si. Os materiais usados — como cimento, aço, vidro e
plásticos — são feitos em fábricas que libertam muitos gases poluentes. E transportar esses materiais até ao local da obra também polui. Até as máquinas que constroem os edifícios funcionam, muitas vezes, a gasóleo.

Assim, mesmo antes de alguém dormir uma noite num prédio novo, ele já deixou uma pegada enorme no planeta.

Figura 1 – Emissões associadas ao processo de construção

O Que é o Carbono Incorporado?

Os cientistas gostam de dar nomes às coisas para as podermos identificar e estudar melhor. Então
chamaram carbono incorporado a todo o conjunto de emissões de gases com efeito de estufa (que
aquecem a Terra) que acontecem por causa da construção de um edifício, desde o primeiro tijolo até ao
dia em que a chave é entregue, e com a sua demolição ao fim de muitos anos.

Podemos imaginar o carbono incorporado como uma mochila invisível que cada prédio carrega. Uns
prédios têm mochilas maiores, porque usaram muitos materiais poluentes. Outros têm mochilas mais
leves, porque foram construídos com mais cuidado.

E a questão é: quanto maior for a mochila de carbono, mais o planeta sofre.

O Que os Cientistas Fizeram Neste Estudo

Neste estudo os cientistas quiseram encontrar uma forma prática de medir o carbono incorporado dos
edifícios. Se conseguirmos medir, podemos comparar. E se podemos comparar, podemos melhorar!

Eles propuseram um método que permite calcular a pegada de carbono de diferentes materiais e técnicas de construção. Assim, os arquitetos, engenheiros e governos podem decidir quais as melhores escolhas para poluir menos.

O estudo foi feito a pensar principalmente na Europa, onde há leis e objetivos claros para reduzir emissões de gases com efeito de estufa. Os cientistas querem ajudar a cumprir metas importantes, como as do Acordo de Paris, que pede que todos os países colaborem para evitar que o planeta aqueça mais do que 1,5 oC.

Como Medir Algo Invisível?

Medir o carbono incorporado pode parecer impossível, porque não é algo que se veja ou se sinta. Mas
com contas e medições, os cientistas conseguem descobrir quanto “peso invisível” cada prédio carrega. Para isso, eles seguem todos os passos da vida de um edifício, como se fosse uma história completa: desde a extração da pedra e da areia até ao momento em que o prédio é demolido.

Tudo começa com a produção dos materiais. O cimento e o aço, por exemplo, são dois dos maiores
culpados, porque precisam de muita energia para serem fabricados e libertam toneladas de gases
poluentes. Depois vem o transporte: levar toneladas de vidro, ferro ou betão em camiões, barcos ou
comboios gasta combustível e aumenta a poluição. A seguir está a fase da construção, em que máquinas grandes e pesadas consomem energia e libertam fumo enquanto trabalham. Finalmente, quando o prédio já está velho e chega ao fim da vida, é preciso decidir o que fazer com os materiais: se forem reciclados, ajudam a reduzir a poluição; se forem deitados fora em aterros, aumentam a pegada de carbono.

Para organizar tudo isto, os cientistas dividem o edifício em quatro partes: a estrutura (como os ossos de um corpo, que são as colunas e fundações), a pele ou envolvente (paredes de fora, janelas e telhado), o interior (paredes de dentro, chão, cabos e canalizações) e o exterior (jardins, estacionamentos e muros à volta).

Figura 2 – A pegada de carbono resulta da soma de etapas

Cada parte contribui com uma “fatia” de emissões, como peças de um puzzle. Só quando juntamos todas as peças conseguimos ver a imagem completa da pegada escondida que cada prédio deixa no planeta.

A importância deste estudo

Talvez penses: “Mas se já temos tantos problemas no planeta, porque nos preocuparmos com prédios
novos?”

A verdade é que a cada segundo que passa, novos edifícios estão a ser construídos no mundo inteiro. E
cada um deles vai durar dezenas, ou até centenas de anos. Se forem construídos sem pensar no carbono incorporado, vamos estar a carregar o planeta com mochilas pesadas que ficam por muito tempo.

Além disso, a população mundial continua a crescer. Isso significa mais casas, mais escolas, mais hospitais, mais centros comerciais. Se não mudarmos a forma como construímos, será impossível atingir as metas de redução de emissões.

O Que Podemos Fazer Diferente?

O estudo mostrou que é possível escolher materiais e técnicas que reduzem muito o impacto ambiental.
Uma das soluções é substituir parte do cimento por alternativas menos poluentes. Também é possível
recorrer a madeira de florestas bem geridas, que além de ser resistente tem a capacidade de guardar
carbono dentro de si. Outra opção é reciclar materiais de prédios antigos em vez de os deitar fora, dando-lhes uma nova vida. É igualmente importante planear os edifícios para que durem mais tempo e gastem menos energia depois de construídos. No fundo, cada decisão num projeto de construção funciona como uma bifurcação: seguir pelo caminho pesado, que aumenta a pegada de carbono, ou escolher o caminho leve, feito de materiais e ideias que respeitam o planeta.

Mas não basta os cientistas descobrirem como medir o carbono incorporado. É preciso que os governos criem regras e incentivos para que todos usem esses métodos. O estudo mostra que os países podem definir limites de emissões para cada tipo de construção, obrigando os construtores a pensarem melhor nos materiais que utilizam. Podem ainda apoiar financeiramente quem aposta em soluções inovadoras e mais limpas. Se houver cooperação entre cientistas, governos, empresas e cidadãos, conseguimos transformar o setor da construção numa parte da solução em vez de ser apenas parte do problema.

E não penses que isto é apenas assunto para engenheiros ou arquitetos. Todos nós podemos ter um papel. Podemos pedir que as escolas e edifícios públicos sejam construídos de forma sustentável. Podemos aprender a valorizar materiais reciclados. Mesmo agora já podes ajudar a criar uma cultura em que cuidar do planeta faça parte de todas as escolhas.

O Futuro Que Podemos Imaginar

Imagina uma cidade onde todos os prédios são feitos com materiais amigos do ambiente. Onde as casas são bonitas, confortáveis e ao mesmo tempo ajudam a proteger o planeta. Onde cada escola ensina os alunos a viver de forma sustentável, dentro de edifícios que também são professores silenciosos, mostrando com o exemplo como se constrói sem poluir. Esse futuro não é um sonho impossível.

Figura 3 – Cidade sustentável

Conclusão

As nossas casas e prédios não são apenas lugares onde vivemos, brincamos, estudamos ou trabalhamos. Eles também contam a história de como tratamos o planeta. Se continuarmos a construir sem pensar, deixamos uma pegada pesada que vai prejudicar as próximas gerações. Mas se aprendermos a medir e reduzir o carbono incorporado, podemos mudar essa história.

O estudo que resumimos mostrou uma estratégia para calcular esse impacto escondido. É como se
tivéssemos agora uma lupa mágica que nos permite ver aquilo que antes era invisível. Com essa lupa,
podemos escolher melhor os materiais, as técnicas e os caminhos para construir

E assim, pouco a pouco, podemos transformar a construção num aliado do planeta, ajudando a reduzir o aquecimento global e a criar cidades mais saudáveis, bonitas e sustentáveis.

Citação do artigo original

Santos, A. K., Ferreira, V. M., & Dias, A. C. (2025). Promoting decarbonisation in the construction of new
buildings: A strategy to calculate the embodied carbon footprint. Journal of Building Engineering, 103, 112037.https://doi.org/10.1016/j.jobe.2025.112037

Declaração sobre o Uso de Ferramentas de Inteligência Artificial

Este trabalho utilizou ferramentas de inteligência artificial para apoiar a redação e a criação de imagens,
mas todo o conteúdo foi revisto e validado por curadoria humana.

Revisão do Texto e Mentoria Científica

Este artigo foi revisto inicialmente por Isabel Saúde, do Gabinete de Comunicação e de Gestão de Ciência do CESAM, e por xxxxxx, aluno(a) da Escola xxxxxxxxxxxxxx
A mentoria científica do texto foi feita por Ana Dias, Engenheira do Ambiente, do CESAM e Departamento de Ambiente e Ordenamento da Universidade de Aveiro, uma das coautoras do artigo original.

Editor Geral

Amadeu Soares, Diretor do CESAM e professor catedrático do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro, revisor e editor da última versão do artigo.

Agradecimentos

Apoio financeiro do projeto «Estrutura de comunicação para a Bioeconomia Sustentável e Economia
Circular no âmbito do Plano de Ação para a Bioeconomia Sustentável (PABS).», da Agência Portuguesa do Ambiente, financiado pelo Fundo Ambiental.